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[ 2 edições – maio de 2018 e dezembro de 2019 ] Atenta à polifonia de vozes que ecoam no país e no mundo, a revista integra um elenco de exceção no seu número inaugural: textos inéditos de J.M. Coetzee e Georges Perec; entrevista com Silviano Santiago e trechos iniciais das memórias que este autor tem vindo a escrever, tendo em vista a publicação em 2019, pela Companhia das Letras; perfil da fotógrafa Maureen Bisilliat e ensaios de Eliane Robert Moraes, Maria Angélica Melendi e Iris Montero; poemas e ficções de autores diversos, entre eles, o ficcionista português Luís Rainha; ensaio fotográfico de Eustáquio Neves e ensaios visuais de Leonora Weissmann e Julia Panadés. E mais: Olympio revisita o percurso do contista Francisco de Morais Mendes e escrutina o acervo do escritor e ensaísta mineiro Eduardo Frieiro (1889-1982), sob a guarda da Academia Mineira de Letras. Colaboram com a revista nomes como José Castello, Joselia Aguiar, Paulo Henriques Britto, Noemi Jaffe, Ricardo Maciel dos Anjos e Joca Reiners Terron.
Colaboram nesta edição
Domingos de Souza Filho, Douglas Diegues, Edimilson de Almeida Pereira, Eliane Robert Moraes, Eustáquio Neves, Francisco de Morais Mendes, Georges Perec, Iris Montero, J. M. Coetzee, João Pombo Barile, Joca Reiners Terron, José Castello, Joselia Aguiar, Julia Panadés, Julio Abreu, Leo Gonçalves, Leonora Weissmann, Letícia Féres, Luci Collin, Luís Rainha, Maria Angelica Melendi, Maria Esther Maciel, Maurício Meirelles, Noemi Jaffe, Paulo Henriques Britto, Ricardo Maciel dos Anjos, Simone de Andrade Neves
Editorial
Há 56 anos, a poeta Sophia de Mello Breyner cunhou uma frase definitiva ao falar do lugar da poesia em tempos de desesperança:
Eu sou aquela que não
aprendeu a ceder
aos desastres
Mais atual que nunca, essa afirmação também nos pertence. A literatura resiste porque assim deve ser. Por isso, criamos a revista Olympio. A melhor resposta ao estado de emergência ética, social e econômica em que se encontra o país é continuar apostando no poder das ideias, da imaginação e da palavra. A palavra como antítese à indiferença e ao radicalismo que campeiam à solta. A palavra em seu estatuto de protagonista.
A experiência literária nos diz sobre a vida que vivemos e que inventamos de viver. Fala sobre nós e os outros. Em diálogo com as outras artes, a literatura é um poderoso antídoto contra a burrice dogmática e as verdades estabelecidas. Olympio tem como eixo editorial a ideia de transversalidade, na qual se estabelecem interseções da literatura com os demais campos artísticos e áreas do saber, num jogo de confluências e reciprocidades.
A revista enfatiza a produção ficcional, poética e ensaística contemporânea, incluindo ainda perfis e entrevistas, tradução de textos literários, relatos de viagem, ensaios visuais e fotográficos. Esta edição inaugural atesta o que pretendemos valorizar: a pluralidade de autores, o hibridismo dos textos, a multiplicidade de olhares.
A palavra tem um lugar no mundo. É desse lugar que queremos falar. A mexicana que mora nos Estados Unidos e entrelaça a migração de indígenas e beija-flores com sua própria mudança de país; a argentina que reside no Brasil e reflete sobre a imaginária do martírio e da dor; o Nobel sul-africano que mora na Austrália e nos convida a pensar na alma invisível dos gatos; a inglesa que vasculhou os sertões e trouxe um mar de imagens e histórias; o mineiro que, em suas memórias, recupera a origem de seus desatinos de fabulador; a pesquisadora que envereda pela erótica literária e a escritora que encontra um lugar-língua em seu périplo lisboeta, todos têm alguma coisa a nos dizer, hoje, agora. São vozes cheias de indagações, de inquietudes, de alegria e desconforto. Acreditamos na potencialidade de a literatura e as artes nos levarem a ver o mundo fora dos enquadramentos, a divisar o imprevisível no óbvio e a vasculhar as coisas que existem nas dobras e nas margens da realidade explícita.
Propor uma revista de literatura neste momento – Brasil, 2018, o ano da ressaca política e do desencantado reencontro com as urnas – é apostar na aventura do pensamento, no exercício do livre pensar e nas escolhas que havemos de fazer, a todo momento. Sem risco, não há aventura.
Não há o que não haja.